domingo, 18 de janeiro de 2009

O Curioso Caso de Benjamin Button

Filas de cinema podem ser coisas bem chatas e eu achava que estava livre delas pra sempre desde que começaram com essa história de lugar marcado. Infelizmente, porém, descobri hoje que nem todos os cinemas adotaram tão desenvolvida técnica e, não sendo fã de primeira fileira, fui obrigado a pegar uma fila razoável, pois fim de semana de estréia de filme do Brad Pitt não é lá a coisa mais vazia do mundo.

No entanto, filas podem dizer bastante sobre o filme em questão e quando você vê metade das pessoas saindo da sessão anterior chorando copiosamente, você começa a ficar ligeiramente ansioso com o que lhe espera dentro da sala. Não que fazer você chorar signifique necessariamente que o filme seja bom ou ruim ou qualquer coisa do tipo, mas um filme só consegue fazer você chorar quando te toca de alguma forma.

O filme, como a maioria já deve ter adivinhado, se chama O Curioso Caso de Benjamin Button, e conta a curiosa história (duh) de Benjamin Button (duh), um homem que resolveu seguir o curso da vida de uma maneira ligeiramente incomum, nascendo velho e rejuvenescendo ao longo da vida. Diante dessa bizarra situação, o filme, ao longe de suas quase 3 horas (passa voando, though) consegue levantar várias pequenas questões morais sobre a vida e sobre como devemos aproveitar nossas oportunidades e saber recomeçar quando as coisas dão errado e saber que as coisas acabam e que devemos eventualmente deixá-las passar. Há uma série de personagens muito bem desenvolvidos que dão o pano de fundo necessário para o desenvolvimento do drama.

E inevitavelmente o foco de todas essas questões acabam sendo no romance entre o personagem do Brad Pitt e da Cate Blanchett. Afinal, como imaginar um romance entre uma pessoa que envelhece como qualquer outra e uma que fica mais jovem a cada dia? Pequeno vai ser o tempo que poderemos ver os dois juntos com uma idade aproximada e o filme explora bem esse sentimento. Como dito, eles se encontraram no meio do caminho.

(na verdade, a quantidade de clichês morais levantados pelo filme é tão grande que eu poderia até recriminar o filme por isso, mas eu resolvi deixar isso passar)

Chega a hora que eu preciso parar de falar do filme pra evitar escrever muitos spoilers. Vale a pena ressaltar, porém, o excelente trabalho que o David Fincher faz aqui, assim como a fotografia, que está belíssima. O destaque maior, como não poderia ser diferente, vai para a maquiagem. Ver o Brad Pitt com 18 anos de novo foi assustador.


Deixando o filme em si um pouco de lado e pensando na idéia por trás de tudo, eu comecei a pensar que seria bem bacana vc nascer velho e ir ficando jovem com o tempo. Tem uma frase do Saramago que eu acho genial que diz "os jovens não sabem o que podem enquanto os velhos não podem o que sabem". Não seria, portanto, a solução para esse problema? Particularmente eu acho que chegar no auge da minha forma física depois de 50 anos de experiência deve ser algo legal. Ou não, vai saber. Pense nisso.

Your life is defined by its opportunities... even the ones you miss.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tem uma frase do Saramago que eu acho genial que diz "os jovens não sabem o que podem enquanto os velhos não podem o que sabem". Não seria, portanto, a solução para esse problema? Particularmente eu acho que chegar no auge da minha forma física depois de 50 anos de experiência deve ser algo legal. Ou não, vai saber. Pense nisso.

Eu acho que não resolveria muita coisa. Na verdade, a vida em si caminha de um jeito que eu julgo praticamente perfeita. Porque ele ser uma criança num corpo de alguém com 80 anos é perda de tempo, de certa forma. E nesse caso, ele é uma criança e não tem o "saber" e tá no corpo de um velho, não tem o "poder". E quando ele chega no meio da vida dele, tudo fica perfeito, ele tem a aparência e a sabedoria. Mas analisando assim, nós também temos isso em algum momento da vida. E quando o Benjamin vai chegando aos 60, ele volta a ser uma criança, o que volta a deixá-lo debilitado e impossibilitado. Então não acho que essa seja a solução para os problemas. Mas não deixa de ser um caso interessante.

Anônimo disse...

Quanto ao resto do post.

1- Verdade, tinha esquecido que você adora primeiras filas.

2- "na verdade, a quantidade de clichês morais levantados pelo filme é tão grande que eu poderia até recriminar o filme por isso, mas eu resolvi deixar isso passar"

Engraçado, muita gente tá dizendo isso. Eu achei o filme muito pouco clichê nos questionamentos morais, são coisas bem sutis e naturais. Mas algumas falas estragavam a sutileza do questionamento em si, o que tornava tudo clichê. E isso é uma pena.

Eu achei o filme bem interessante, mas eu achei os personagens um pouco mal trabalhados, a ponto de parecerem frios em um certo ponto. Acho que o filme foi longo demais por contar coisa demais, ele poderia ter tido a mesma duração e tirado alguns personagens da trama, que deixaria o filme mais pessoal.

[SPOILER]

Por exemplo, o Benjamin se relacionava com todo mundo na casa. Mas quando os personagens morreram, não teve uma vez que pensei: "poxa" e senti a "perda" do personagem. Exceto, talvez, pela senhora do piano com o cachorro. Nem mesmo a morte da Queenie eu senti, ou de todos aqueles homens com quem ele trabalhava. Nesse quesito, eu acho que o David Fincher deixou bastante a desejar.

Basicamente, é uma história interessante, com um roteiro não tão interessante assim e uma parte técnica muito bem trabalhada. Mas por mim não merece indicação ao Oscar de melhor filme.

Anônimo disse...

"Na minha próxima vida, quero vivê-la de trás para frente. Começar morto para despachar logo esse assunto. Depois acordar num lar de idosos e ir-me sentindo melhor a cada dia que passa,
ser expulso porque estou demasiado saudável, ir receber a aposentadoria e começar a
trabalhar, recebendo logo um relógio de ouro no primeiro dia.
Trabalhar por 40 anos, cada vez mais desenvolto e saudável até ser
jovem o suficiente para entrar na faculdade, embebedar-me diariamente
e ser bastante promíscuo, e depois estar pronto para o secundário e
para o primário, antes de virar criança e só brincar, sem
responsabilidades. Aí viro um bebê inocente até nascer. Por fim, passo
nove meses flutuando num SPA de luxo com aquecimento central, serviço de quarto a disposição e espaço maior dia a dia, e depois - Voilà! -
desapareço num orgasmo."

Woody Allen.

:)

Ainda não vi o filme:(

Anônimo disse...

Eu acho que não seria interessante se a vida fosse ao contrário, porque po, quando se é criança você quer brincar e correr e tal, ser uma criança no corpo de velho iria limitar MUITO a infância (que pra mim é maravilhosa), e ser um velho num corpo de criança não seria algo que podemos chamar de infância. E a juventude? Provavelmente a melhor época da vida, eu que não queria passar minha juventude com um corpo de coroa. Enfim, acho bom a vida correr na sua maneira natural. Ah, eu adorei aquela parte que ele tá pensando que a mulher que já esqueci o nome não seria atropelada se uma coisinha fosse diferente, é bem meu estilo essas coisas xD.

;**