terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Wolfie! Wolfie!

Eu sou um grande fã dos trabalhos do Scorsese. É um daqueles diretores que você reconhece rapidamente ao ver apenas algumas cenas de um filme. Eu gosto disso. Se no último filme dele, Hugo, isso tenha ficado bastante de lado (é talvez o filme mais diferente do diretor), o seu estilo volta com tudo nesse O Lobo de Wall Street, no melhor estilo Os Bons Companheiros.

Os Bons Companheiros que, por acaso, é o meu filme preferido dele (não só dele, mas um dos meus preferidos da vida). E eu não poderia ficar mais satisfeito com a realização de que O Lobo de Wall Street foi concebido exatamente da mesma maneira, ainda que em momento nenhum soe como uma cópia. Está tudo lá, as drogas, o crime, o sexo, o narrador-personagem, o arco narrativo início-evolução-auge-queda-recuperação, a trilha sonora marcante, etc.

O Lobo de Wall Street, entretanto, se destaca por ser talvez o filme menos pretensioso da carreira do Scorsese. A impressão que se tem é de que o diretor quis apenas se divertir e fazer um filme divertido, sem nenhuma preocupação com premiações ou de passar uma mensagem ou qualquer coisa assim e isso não é tão comum em sua carreira.

O filme conta a história verídica (ainda que com alguns - óbvios - exageros) do ex-corretor Jordan Belfort, que nos 80 chegou ao topo de Wall Street ao manipular o sistema financeiro e arruinar muitas famílias - nem sempre de maneira legal. Em meio à muita droga, putaria e bizarrices, podemos ver desde o começo da carreira de Jordan, um tímido e ambicioso corretor até seus exageros mais bizarros, sua criminalização e sua inevitável queda.



Mas o filme não tenta passar nenhuma lição de moral nessa história, e isso foi um grande acerto, pois deixou o filme mais leve e agradável. Tivesse dado um tom mais sério, Scorsese teria feito um filme carregado e arrastado. Mas a energia quase juvenil que o diretor emprega durante todo o longa faz com que quase não se sinta suas 3h de duração. Embora o protagonista seja capaz das atitudes mais absurdas, o Scorsese deixa a cargo do espectador tirar suas próprias conclusões.


E não há como não falar do filme sem mencionar as atuações, especialmente - óbvio - a de Leonardo DiCaprio (também produtor do filme junto com Scorsese), que aparece em virtualmente todas as cenas do filme. Com três indicações ao Oscar antes de O Lobo de Wall Street, muita gente fica indignada por ele nunca ter ganho. Eu não sou uma delas. Gosto das atuações dele, mas eu não teria premiado nenhuma de suas atuações anteriores - sempre achei ele um pouco exagerado demais.

A coisa mudou um pouco pra mim aqui. Essa, na minha opinião, é de longe a melhor atuação do Leo em toda sua carreira, e justamente em um filme onde a carga dramática é menor. Aparentemente, seus exageros funcionam muito melhor para a comédia do que para o drama. Aqui ele simplesmente dá vida a um personagem fascinante.

E o elenco de suporte não fica atrás, desde a breve - e genial - ponta de Matthew McConaughey até o hilário Jonah Hill e a linda Margot Robbie. Na verdade, sem tamanho talento em seu elenco, o filme jamais faria o sucesso que faz. E o uso da trilha sonora - ah, como o Scorsese faz isso bem. É capaz de transformar uma cena simples em algo sensacional: cito como exemplo óbvio a invasão da empresa de Jordan pelo FBI ao som de Mrs. Robinson. Simplesmente genial.

Eu gostei tanto do filme que já fui ver duas vezes no cinema (e o ingresso não tá barato viu). Não sei se chega a ser melhor que Os Bons Companheiros, mas fazia um bom tempo que eu não ria tanto no cinema. É o entretenimento em seu ponto máximo.


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