É tão bom assistir uma aula que te cativa e te deixa realmente interessado pelo tema.
Isso não costuma acontecer comigo. Nem sempre tive boas experiências nas faculdades que fiz, sou capaz de contar nos dedos o número de aulas que me deixaram assim. Em administração provavelmente nenhuma. Em história eu tive um grande professor que tornava cada aula sobre Marx a coisa mais interessante do mundo. Em relações internacionais na PUC aconteceu algumas vezes quando eu estudei a formação do sistema internacional. E em relações internacionais na UFRJ, eu acho que aconteceu pela primeira vez essa semana, no meu maldito oitavo período.
(sim eu fiz várias faculdades, mas - ainda - não terminei nenhuma).
Enfim, esse blablabla todo era só pra dizer que eu tive uma aula sobre um tema interessantíssimo e que eu gostaria de compartilhar com os leitores imaginários desse blog (sim, você mesmo). A aula era sobre fluxos internacionais de comunicação.
Naturalmente, muito se falou sobre tecnologia, sobre como a internet está revolucionando a velocidade e o modo como nós nos relacionamos com as notícias e sobre como hoje em dia qualquer pessoa é capaz de dar opiniões para milhares de outras.
E isso é verdade. Qualquer pessoa hoje pode ir e despejar um monte de coisa em um post - normalmente - presunçoso no Facebook (ou em um blog =P). Todo mundo tem opinião sobre tudo, e hoje podemos fazer essas opiniões chegarem muito mais longe do que há 20 anos atrás. Mas as opiniões, naturalmente, devem estar sempre ligadas à um fato. E quem apura os fatos? Normalmente não são as mesmas pessoas que dão as opiniões, principalmente quando estamos falando de pessoas "normais", não formadas em comunicação e, bem, que não sejam repórteres. Quem faz essa apuração normalmente é a mídia.
Então temos que nós formamos nossas opiniões a partir de fatos apurados pela mídia. Em veículo de grande porte, como o Globo ou a Folha, temos, sei lá, 300 profissionais trabalhando nisso diariamente. Bastante gente? Será? E lá fora? Segundo meu professor, o Globo, por exemplo, mantinha cerca de 16 correspondentes estrangeiros há alguns anos atrás. O que 16 pessoas conseguem apurar no mundo inteiro? Virtualmente nada, apenas notícias bombásticas que atraem a atenção de todo mundo e que no fundo nem precisaria dele ali.
Então, como a gente tem acesso à tantas notícias sobre o resto do mundo? Isso acontece via Agência de Notícias, uma coisa que eu já tinha ouvido falar mas eu nunca tinho entendido muito bem como funcionava. As grandes agências internacionais de notícia possuem cada uma cerca de 3 mil funcionários no mundo todo (a maior delas, Reuters, tem 60 mil). É gente pra caramba apurando notícia pra caramba. Assim, eles formam um enorme banco de dados de notícia, que são então vendidas para a mídia tradicional. Algo como um atacado de informação. Então a notícia sobre a crítica do relatório da ONU feita pelo Vaticano que você pode ver no G1 não foi apurada pelos repórteres do site do Globo. Como grande parte das notícias expostas na sessão internacional, ela foi comprada de uma dessas agências de notícias (e você pode ver lá, escrito logo acima matéria "Da EFE", significando que foi comprada da EFE, uma agência de notícias espanhola).
Até aí tudo muito bem (mais ou menos). O pulo do gato está no seguinte: as 4 maiores agências de notícias do mundo (EFE, AFP, AP e Reuters) foram responsáveis no ano passado pela apuração de cerca de 94% das notícias do mundo. Isso é surreal. Todos as opiniões que damos sobre os fatos que acontecem lá fora são baseados na apuração de apenas 4 agências.
E tem mais: duas delas não possuem fins lucrativos (AP e AFP) e uma, embora seja atualmente uma sociedade anônima, atuou por anos no vermelho (EFE). Isso significa que elas são basicamente empresas cujo objetivo primário não é o lucro, e sim a apuração de notícias. Ora, como explicar que elas continuem sobrevivendo dessa forma? É claro que existe um óbvio interesse estatal em manter essas empresas funcionando e o sistema do jeito que ele está, mantendo assim o controle sobre esse monopólio de notícias.
E isso é problemático pra caramba.
Assim, quando um jornalista brasileiro compra uma notícia da Associated Press, uma agência de notícias americana, e a traduz e publica em um jornal local, ele está traduzindo uma notícia que foi apurada a partir de uma visão de mundo americana. E eu nem estou querendo entrar em teorias conspiratórias de manipulação de informação (que com certeza deve existir também, mas enfim), mas isso por si só já é problemático. Da mesma forma, são essas agências de notícias que definem o que é ou não prioridade. Se a Reuters diz que o conflito na Síria é a grande prioridade do dia, nenhum jornal brasileiro, por exemplo, vai lutar contra isso e escolher outra notícia para dar destaque, ficando como "o único jornal que não falou sobre aquele fato importantíssimo que todos os outros jornais falaram que aconteceu na Síria".
Então, no fundo, a imprensa local de cada país é apenas um espelho de notícias apuradas por uma minoria, que refletem, por sua vez, os interesses de potências como os Estados Unidos, França e Inglaterra.
Complicado.
Enfim, provavelmente tem algumas besteiras aí no meio, mas eu não sou nenhum pesquisador nem nada, sou apenas um interessado no tema. Quem sabe no futuro eu não possa ir mais a fundo? Pelo menos escrever isso foi bom pra dar uma estudada e manter a matéria fresca na cabeça :D
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