Dois assuntos movimentaram o noticiário esportivo na última semana, com uma repercussão enorme nas redes sociais, blogs e etc. Em ambos, me chamou a atenção como as pessoas hoje em dia são julgadoras instantâneas. A impressão que eu tenho é que quase ninguém busca entender o que aconteceu, quase ninguém tenta ver os dois lados da história. As pessoas vem a notícia e vão direto despejar sua opinião em qualquer lugar que seja. E o que mais me espanta é que nem é preciso ir muito a fundo pra ter uma opinião um pouco diferente, o que significa que a galera tá surfando na superficialidade com força.
O primeiro caso foi o do dirigente do Cruzeiro, que, revoltado com o erro da banderinha no clássico contra o Atlético, disparou que "se ela é bonita, que vá posar para a Playboy". Pronto. Galera revoltada, geral reclamando da discriminação, de que o futebol é um ambiente misógino, que as mulheres sofrem muito preconceito, bla bla bla.
Primeiramente: sim, o diretor foi um tanto indelicado. A relação beleza/playboy é sim um pouco preconceituosa. Acredito que ele teria sido menos incompreendido se ele tivesse dito algo do tipo "se ela é bonita, que vá ser modelo". Porque a crítica do cara em momento nenhum foi ao fato de a auxiliar ser do sexo feminino. A crítica dele era que, supostamente (nem eu nem ele temos como provar, acredito), ela vinha sendo escalada seguidamente mais por sua beleza que por sua qualidade como auxiliar de arbitragem. De fato, ela havia cometido um erro grave logo no jogo anterior, do São Paulo e mesmo assim foi indicada logo depois para participar de um jogo importante como o clássico mineiro.
Ou seja, o diretor foi um pouco infeliz em sua declaração, mas nem de longe era pra tanto. Muito mais grave, nessa história, é a cobertura da mídia-esportiva-punheteira. Em quase todas as matérias com a declaração e a repercussão frequentemente víamos uma "galeria de fotos da musa", invariavelmente com fotos da mina de costas. Mas se está lá é porque vende né, então acredito que o buraco seja bem mais embaixo.
O segundo caso foi a demissão do técnico do Flamengo, o Jayme. Discussões sobre se a discussão foi justa ou não à parte (não foi), o que incomodou muito foi o Jayme ter descoberto que seria demitido através de um repórter, enquanto curtia uma praia em seu dia de folga. Começou a chuva de críticas a diretoria do Flamengo, que era incapaz de demitir um empregado pessoalmente antes de divulgar para a imprensa, que era um desrespeito com tudo que o Jayme havia feito pela instituição, que botaram o cara numa situação constrangedora, bla bla bla.
Novamente, existiu sim uma falha por parte da diretoria. Na verdade duas. A primeira por ter deixado vazar a informação de que se estava pensando em demitir o Jayme, mas isso é dificílimo de conseguir vedar no futebol. Não dá nem pra saber de onde isso vazou, mas dificilmente foi diretamente da diretoria. E também vai muito do risco que o repórter correu, ao anunciar como certo algo que ainda não havia sido declarado oficialmente. Dessa vez ele acertou, mas da próxima ele pode errar. O segundo erro foi não adaptar a estratégia ao ver que a informação havia sido vazada. Nem que segurassem o Jayme por mais uma semana, sei lá.
Mas não, não houve todo esse desrespeito com o Jayme. Os dirigentes passaram a tarde pensando no assunto e procurando outro técnico, mas a demissão só seria oficializada após a conversa com o Jayme, que seria à noite. Nenhum dirigente pensou "foda-se o Jayme hehehe, vamos logo falar pra imprensa que ele tá fora e é isso aí!!". É meio burro achar que eles fariam isso. Novamente, o erro foi ter deixado vazar que isso estava sendo decidido e continuar com a idéia após ter vazado de fato, que não deixam de ser erros graves, mas não são erros de caráter, o que seria mais dramático na minha opinião.
Também tem a discussão do quão ético é conversar com um técnico novo antes de demitir o velho, mas sinceramente, eu acho isso uma bobagem enorme. Eu não consigo ver problema algum. Se eu tenho um cargo importantíssimo na minha empresa, que não pode ficar vago, eu não posso me dar ao luxo de demitir a pessoa que está lá e que na minha opinião não está fazendo um bom trabalho para só então ir procurar alguém novo no mercado, enquanto o cargo fica às moscas deus sabe por quanto tempo. É uma ingenuidade enorme pensar assim.
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