Ano após ano é a mesma ladainha. Torneios vazios, times reservas, público escasso, partidas de baixo nível técnico... o desinteresse pelos campeonatos estaduais aumenta de uma maneira que parece anunciar o seu fim de maneira cada vez mais urgente. Nesse ano de 2014 a coisa está particularmente alarmante.
A última partida do Flamengo, time de maior torcida do Brasil, teve um público de 375 corajosos. Atenunantes (jogo quarta-feira à noite em Volta Redonda) à parte, é dos menores públicos para o qual eu já vi o Flamengo jogar. Não que seja exclusividade do Flamengo: todos os times vem trazendo pouquíssimas pessoas ao Estádio. Da mesma forma, não são apenas os jogos envolvendo times menores. Mesmo clássicos como o Fla x Flu, de tanta tradição e história, trouxeram menos de 15 mil pagantes. E esse foi o segundo maior público do campeonato!
Com a profissionalização e a valorização cada vez maior do futebol brasileiro, é natural que os torcedores elevem o seu padrão e fujam de jogos de pouco apelo, como são os do carioca. Com os ingressos cada vez mais caros, tem que ter muita disposição pra sair do conforto de sua sala pra assistir o Flamengo enfrentar o Audax com time reserva. Qualquer torcedor com um pouco de senso vai preferir guardar seu dinheiro pra ver o Flamengo jogar com uma grande força sulamericana na Libertadores, por exemplo.
O fim parece bem próximo.
Mas é isso que queremos?
Por mais desinteressante que possam parecer nesse momento, os campeonatos estaduais são um reduto inesgotável de histórias e tradição. E não, não estou falando do tipo de história que ficaria melhor conservada em um museu. Como um flamenguista de 26 anos, eu já vi o Flamengo vencer diversos títulos, muitos importantes como brasileiros, copa do brasil e por aí vai. Mas nenhuma partida ou gol me marcou (a mim e a milhões de rubro-negros) como o gol do Petkovic no estadual de 2001. Vá lá que já vão se fazer 13 anos, mas é um passado muito recente, se levarmos em conta que os estaduais do Rio acontecem há mais de 100 anos.
Os estaduais tem um potencial enorme para alimentar a rivalidade e criar histórias inesquecíveis, e eles ainda não deixaram de fazer isso.
Falar dos estaduais é falar dos chamados times pequenos. Embora também possam ser considerados redutos de história e tradição, nesse caso eu já acho que estamos falando de um tempo pretérito. Por menos que eu queira ver o América ou o Bangu fechando as portas, um time não pode ser manter vivo na base do passado, e cada vez mais vamos assistindo a decadência desses times.
Dizem que é o torneio estadual que mantêm esses times vivos, mas se essa é a desculpa para sua manutenção, é preciso alguma intervenção, porque isso não está funcionando.
Os times pequenos precisam se reinventar. Eu não sei bem o caminho pra isso, mas eu diria que o começo é estreitar os laços com as comunidades em que se situam. É preciso que haja uma identidade maior entre clube e cidade. Uma atuação forte em escolinhas, em colégios, em peneiras. Isso seria bom para os clubes e bom para as cidades. Não sei bem se é viável, mas é um caminho que eu gostaria de ver - sonhando talvez em algo similar ao futebol universitário americano.
E quanto aos estaduais?
A única certeza é a de que algo precisa ser feito, com alguma urgência. O atual modelo não é nem interessante nem sustentável a médio prazo. então já que estamos abrindo a caixa e sugerindo coisas diferentes, eis a minha sugestão para os estaduais.
- Hoje temos 19 datas reservadas para os principais estaduais do Brasil.
- Falando do Rio, que eu naturalmente conheço melhor, temos 4 times grandes e 11 pequenos. Essa distinção é bem clara, ao contrário de São Paulo, que temos times "médios" como Portuguesa, Ponte Preta, etc.
A idéia que eu tenho na minha cabeça é pegar esses times pequenos, talvez juntar mais um, e começar o campeonato só com eles. 12 times, turno único, 11 datas, os 4 melhores se classificam. Pode ser inocência minha, mas eu acho que esse começo seria bem legal. Jogar sem os grandes ia aumentar a rivalidade entre os times pequenos e podíamos ter um campeonato bem divertido.
Findado essa primeira fase, pegaríamos esses 4 classificados e juntaríamos com Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo. Quartas de final, semifinal, final, todas em jogos de ida e volta, todos no Maracanã. Me parece claro que, para os torcedores dos times grandes, um torneio de tiro curto desse, só com clássicos e os melhores pequenos seria infinitamente mais interessante. A renda de jogos com um apelo maior como esses talvez fossem maior do que toda a renda acumulada nesses estaduais fracassados que vemos acompanhando.
Teríamos assim um torneio bem bacana, com 17 datas (duas a menos que o modelo atual). Os times grandes teriam uma oportunidade de realizar uma pré-temporada muito mais adequada e até de voltar a excursionar pela europa, jogar aqueles torneios engraçados. Quando o carioca começasse de fato seriam apenas 6 jogos de tudo ou nada, com um apelo muito maior para o público. Os times não sentiriam necessidade de escalar times reservas, e os jogos teriam tudo para serem muito bons.
Novamente, eu não sei o quão viável isso seria. Mas que seria infinitamente mais interessante, aaah, seria.
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