terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Oriente-se! (10) - Escalando Seul

Terça, 27 de Janeiro, 17h45


Não escrevi ontem. Não estava com vontade, acontece. Mas o dia também não foi dos mais animados, acho. Fomos almoçar num restaurante de uma amiga do pessoal aqui, chamada Joelma. Ela é casada com um coreano e resolveu abrir um restaurante de comida brasileira. Chamado, claro, Copacabana. Só podia ser isso. Ou Garota de Ipanema.

Almoçamos lá (eu comi uma lasanha de 4 queijos em um restaurante brasileiro na Coreia do Sul, nice, uh?) e depois fui com meu irmão até o principal palácio da cidade, chamado (pegando o guia...) Gyeongbokgung. Como era feriado, estava fechado, mas ainda assim tinha muita gente na frente tirando fotos e bla. Engraçado que a maioria era coreano mesmo. O palácio, por fora, parece ser imenso e a arquitetura é realmente muito bonita. É um tanto mais sóbria do que coisas da China, por exemplo, sem exageros, pois reflete os ideais confucianos de simplicidade.

Tiramos uma ou duas fotos por lá e fomos andando até uma ruazinha linda, que fica em Insadong. É uma rua só de pedestres, e em muito aspectos lembra o mercado que eu fui um dia desses, Namdaemun, mas aqui tudo é muito mais bonito, com várias lojinhas e galerias de arte. Os coreanos são muito animados e tem sempre alguém fazendo alguma apresentação de alguma coisa ou jogando algo. Tinha um turbilhão de gente jogando um jogo idiota de jogar um tipo de flecha dentro de um tronco no chão a uns 5 metros. E se você pensa que apenas as crianças brincam em tão criativo jogo, não, a grande maioria era adulto ou velho. Tinha gente de toda a idade, na verdade. Claro que eu fui jogar uma vez, e descobri que é bem mais difícil do que parece, pois não acertei nenhum =|

Voltamos pra casa. Jantei por aqui e depois voltamos ao Copacabana, aonde tomamos umas 3 canecas de chopp. Depois disso, voltei pra casa e dormi.

Acordei surpreendentemente cedo hoje, umas 8h. Tomei café sozinho e esperei as pessoas acordarem. Meu irmão não estava afim de sair, então resolvi sair sozinho mesmo. Já tinha saído sozinho dois dias atrás, mas foi aqui do lado, nem foi tão emocionante. Dessa vez fui bem mais longe, tive até que pegar o metrô. É meio assustador andar sozinho em um lugar tão longe e diferente, as vezes você começa a pensar "dude, where the fuck am I", é um sensação incrível.

Saltei na estação de Dongnimmun e fui caminhando, com meu guia na mão. Andei por uma colina que é cheia de pequenos templos budistas e xamanistas (que convivem pacificamente). Tudo é bem quieto e tem uma atmosfera muito tranquila. Tem uma pedra com um formato esquisito, chamada de Pedra Zen, aonde as pessoas rezam para os filhos mortos. Tem várias oferendas pelo chão, velas, incensos, inclusive doces, pois eles acreditam que mesmo os mortos precisam de comida e nada melhor que doces para crianças. Um lugar meio surreal, ao ponto de você estar caminhando pelas pedras e, escondida da trilha principal, você ver uma mulher sentada na posição de Lótus, rezando, ou meditando, ou sei lá o que. Incrível.


De lá, eu fui subindo cada vez mais, até alguns lugares que pareciam não ter trilha. Uma hora a trilha estava tão escondida que eu parei e fiquei pensando se eu realmente podia subir aquilo. De repente me passa um senhor (me cumprimentou, como muitos fazem por aqui, "Haseyoo") com um poodle do tamanho do meu pé e foi em frente. Ora, eu consigo fazer o caminho que um poodle faz. Fui atrás.

Consegui enfim chegar na trilha principal (que na verdade não passa de uma grande escadaria na pedra). Essa trilha não pegava o caminho dos templos, ia por fora. Acontece que trilhas são a grande diversão dos coreanos. Eles adoram fazer essas caminhadas e as trilhas ficam cheias no final de semana. A cozinheira daqui caminha todo fim de semana. E pessoas de toda a idade fazem isso, é algo impressionante.

Pude comprovar isso hoje, pois a trilha estava cheia de gente. Como é feriado, o povo deve ter aproveitado pra subir a montanha. E quase só tinha coreano, nesse tempo todo só vi um casal de franceses e uma garota americana (que inclusive me deu um "hey", curioso como os ocidentais acabam se sentindo parte de um mesmo grupo. Na verdade é engraçado porque os orientais muitas vezes te cumprimentam por você ser ocidental, aquela coisa de quem quer dizer "seja bem vindo" e os ocidentais te cumprimentam como que dizendo "que bom ver um rosto parecido com o meu". A gente vive sendo cumprimentado por aqui).

Jesus cristo, quanto degrau! Fui subindo até o céu, cheguei lá em cima completamente sem fôlego e (pasmem) morrendo de calor. No final da trilha eu passei por um grupo de coreanos e um deles estava comendo uma tangerina. Quando eu passei ele foi e me deu um pedaço da tangerina dele ahuuhahuahu povo aqui é muito simpático. E foi bem deprimente ver uns senhores idosos já chegando lá em cima com muito mais fôlego do que eu. Triste.

Fiquei lá em cima um tempão. A vista era sensacional e o clima estava muito gostoso. Tinha muita gente lá, fazendo piquenique e tudo o mais. Fiquei quase uma hora lá sentado olhando as pessoas passsarem. Foi algo realmente foda.

Enfim, desci aquela degralhada toda. Atravessei a rua e fui até um parque chamado Independence Park. Pequeno, mas bonito. Nesse parque tive uma visão incrível, que eu nunca pensei que fosse ver: pessoas jogando casualmente Badminton. Bizarro.

Do lado do parque tinha uma grande prisão, que hoje em dia é um museu. No site dizia que estaria fechado hoje, mas para a minha surpresa, estava aberto. Por meros 1500 Wons (uns 3 reais), entrei.

A prisão foi construída pelos japoneses, durante a invasão do começo do século passado. O museu é recheado de comentários sobre como os japoneses eram maus e como os patrióticos coreanos eram duramente reprimidos e tal. Meio exagerado, achei, mas de qualquer forma o museu é muito bacana. Um pouco assustador também. Você passa pelas celas e, claro, dá uma olhada lá dentro. Acontece que eles botam uns manequins caracterizados, o negócio parece uma pessoa mesmo então você toma um puta susto. Tem também várias encenações, de julgamentos, torturas, etc. E não contentes com as encenações, eles ainda botam tudo com falas e bla, então você está andando tranquilo e do nada o boneco solta um grito de dor aterrorizante. Creepy.

Depois do museu vim pra casa, pois estava bem cansado de andar. Comi e tal e agora o cara veio aqui e conectou o meu laptop na rede wireless, o que significa que agora meus textos voltarão a ter acentos (teclados coreanos não tem) /o/

E agora eu estou exausto e vou ficar em casa mesmo.

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