segunda-feira, 24 de março de 2008

A Liberdade Perante a Moral

A idéia de liberdade é uma parada que sempre me atraiu bastante. Não é por acaso o nome do meu Flog (land of the free) ou a pergunta do meu msn (how things would be if you were to be free?). Pensamentos aleatórios sobre essa idéia sempre passam pela minha mente, mas nunca foi o suficiente pra me fazer escrever sobre o assunto.

Acontece que um dia desses eu estava vendo um filme do Krzysztof Kieslowski (nomezinho hein) chamado "A Liberdade é Azul" ("Trois Couleurs: Bleu", no original), cujo tema principal é (supresa!) a própria liberdade.

(na verdade não é exatamente o tema do filme, é mais uma idéia que permea todas as idéias que o diretor trabalha dentro do filme, mas anyway.)

Alguns dias depois, eu fiquei preso numa droga de engarrafamento na ponte rio niterói. E eu estava ouvindo justamente o álbum Land of The Free, do Gamma Ray. Vocês sabem né, aquele tédio, os carros parados, ar condicionado ligado, a mente divaga. Comecei a viajar totalmente nessas idéias de liberdade e fiquei tentado a escrever alguma coisa ou outra aqui nesse blog (afinal, pra que mais serve um blog?), coisa que planejo fazer nesse momento.

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Liberdade é aquela coisa que ninguém consegue definir muito bem, mas todo mundo sabe muito bem o que é. Talvez não tão bem assim, muitas vezes eu tenho a sensação que muitas pessoas que se consideram livres não tem idéia da magnitude com que a idéia de liberdade deve ser trabalhada. Particularmente, eu não conheço nenhuma pessoa realmente livre e não acho que exista alguma.

Existem um número diverso de "esferas" de "limitações", sobrepostas ou não, que impedem um indivíduo de adquirir sua liberdade. Dessa forma, ao observarmos um indivíduo fora de uma determinada esfera (principalmente no caso de estarmos falando da esfera do observador), podemos ter a impressão enganosa de que aquela pessoa é livre. Talvez seja difícil observar, mas dificilmente o tal indivíduo estará totalmente livre de todas as esferas, muito provavelmente ele estará sob o domínio de algum esfera que nos parece invisível de longe.

Dando um exemplo bobo e leviano, podemos dizer "aquele homem tem dinheiro pra fazer o que quiser, ele é certamente uma pessoa livre". Não é o caso, pois mesmo com todo o dinheiro do mundo, tal homem ainda terá uma grande quantidade de limitações, que o impedirão muitas vezes de fazer o que deseja. No exemplo citado acima, podemos dizer que o homem não é livre pra matar alguém por exemplo, seja por limitações éticas, religiosas, ou alguma outra qualquer.


É difícil definir quais seriam todas essas esferas de limitação. Pensando rapidamente, poderia pensar em algumas como:

  • Limitações físicas (uma pessoa com problemas respiratórios dificilmente vai ter a liberdade de fazer certos esportes, por exemplo)
  • Limitações religiosas (essas são óbvias, pois se repararmos bem a idéia de religião é basicamente um conjunto de regras e limitações, não matarás, não roubarás, não farás nada que não esteja fora da esfera dessa religião)
  • Limitações financeiras (essa se torna mais forte a cada dia que passa em nossa sociedade moderna. Também é um tanto óbvia, sem meios materias você vai ser impedido de fazer quase tudo atualmente)
  • Limitações afetivas (uma pessoa que deseje se mudar mas não consegue ficar longe da família, por exemplo)
  • Limitações criativas (aqui já se torna um campo mais abstrato. Sempre desejei escrever músicas livros, mas hey, minha criatividade me limita na maioria das vezes)
  • Etc.
Mas a limitação que eu fiquei viajando por mais tempo e a que mais me intrigou foi a Limitação Moral. O que dizer daquele jovem que tem o desejo de morar sozinho mas que mora com a mãe doente. A mãe tem meios de se sustentar sozinha, mas o jovem tem receio de deixá-la e ir morar em outro lugar. Analisando essa situação, percebemos que em todas as outras esferas, o jovem é livre pra fazer o que deseja: Fisicamente, ele é capaz de se mudar. Sua religião também não tem problemas com isso. Ele possui os meios financeiros. Ama sua mãe, mas esse não seria um empencilho na hora de se mudar.

Então, por que o jovem não se muda?

Justamente porque sua ética não permite. Em nossa sociedade, seria extremamente mal visto um jovem largar sua mãe doente sozinha para ir morar em outro lugar. Por mais que deseje isso, o jovem se sentirá oprimido por essas limitações e dificilmente terá coragem de sair de casa. Caso reúna enfim a coragem necessária e saia de casa, será julgado sem dó pela sociedade e se sentirá culpado, mantendo os vínculos fortes com a idéia de sua mãe abandonada, nunca conseguindo ser livre de verdade.

A idéia da moral como limitadora de ações é mais presente em nossas vidas do que nós percebemos normalmente. Mais do que qualquer outra das esferas citadas anteriormente, ela está sempre presente, em todos os indivíduos de dada sociedade. É interessante perceber também a ligação próxima com as limitações religiosas, afinal a própria religião é certamente o sustentáculo da ética de uma sociedade.

Existem alguns poucos indivíduos que tem o talento de conseguir se posicionar acima da idéia de ética. Não obstante, são julgados frequentemente pela sociedade, sendo taxados de "maus caráter". A questão nesse caso, é o fato de tais indivíduos, por se posicionarem acima de tal idéia, não serem afetados pela opinião pública. Ora, estes são os verdadeiros homens livres.

A liberdade de um indivíduo acaba quando começa a do outro? Na verdade é muito mais o contrário.

Vivemos em um mundo cruel.

2 comentários:

Vitor disse...

Só pra dizer que por incrível que pareça eu li isso tudo.

Luara disse...

Eu li também.
E a primeira coisa que eu pensei quando pensei na minha (falta de) liberdade, foi "tenho sete gatos aqui nesse apartamento, e eles não podem ser deixados sozinhos por muito tempo".

Ou seja, quase o exemplo da mãe doente, apesar de que talvez até mais "leviano" ainda, se lembrar que a maioria das pessoas acham outras espécies infinitamente inferiores à nossa.